25 de Abril
- Vítor Belanciano
- 18 de abr. de 2024
- 1 min de leitura
Atualizado: 6 de mai. de 2024

Nos mil e um acontecimentos em torno dos 50 anos do 25 de Abril, pelo menos do que vou vendo e lendo, parecem-se existir duas omissões, apagamentos, cancelamentos, enfim, chamem-lhe o quiserem, que são graves.
Não estou a dizer que não sejam referenciados, aqui e ali, mas nitidamente, sem o protagonismo devido. Uma delas é o papel decisivo para o 25 de Abril que teve a luta desencadeada pelos países africanos de língua portuguesa. Estamos longe de o reconhecer e compreender em todas as suas múltiplas dimensões.
A outra, é Otelo, um incómodo há muito. Imaginava eu, com ingenuidade, que a profusão de eventos iria servir para encarar de forma adulta esse desconforto.
Mas não. Há muito que a sociedade portuguesa se contenta com a forma justa, mas também poética, como foi erigindo Salgueiro Maia a herói romântico do 25 de Abril. Maia tem inúmeros méritos, não é isso que está em causa, mas às vezes parece que a sua memória foi instrumentalizada por quem deseja apagar a de Otelo.
O papel de Otelo foi decisivo, independentemente de eventuais erros na altura, ou depois. Querer apagar isso, à direita, ou à esquerda, é sintoma de uma sociedade incapaz de lidar com os seus desconfortos, e a complexidade dos indivíduos e das sociedades, preferindo habitar no universo da ilusão e da idealização
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